segunda-feira, 11 de maio de 2020

Homofobia Internalizada - Interiorizada

A homossexualidade é um pecado, a homossexualidade é uma perversão, a homossexualidade é algo ruim, a homossexualidade é coisa do diabo, gays são sujos, gays são promíscuos, gays são doentes, gay é doença, homossexualidade é doença, prefiro filho morto do que homossexual, você vai morrer de aids, gays são solitários, gay vai morrer sozinho, se é viado tem aids, maricona, viadinho, viado enrustido, gay nojento, traveco, travecão, é viado porque não apanhou, é gay porque não teve pai, vira homem.



É muito difícil ouvir as frases acima na infância e se tornar um adulto sem acreditar nelas. 
Nós, gays dos anos 90, ouvimos tanto isso que se não trabalharmos nossa mente hoje a gente acaba tendo espírito de inferioridade, baixa auto estima, insegurança - Por mais independente e fodas que possamos parecer por fora (externamente). 

Crianças formam sua auto estima no ambiente, ouvindo e vendo exemplos. Imagina uma criança ouvindo a vida inteira em casa, na escola, nos meios de comunicação que ser gay é errado. 

Acredito que a geração de hoje no aspecto sexualidade tem tudo para ter uma formação menos apedrejada internamente. 

Nós dos anos 90 que ouvimos as frases acima (direcionadas a nós ou não) é preciso muita força interna pra nos amarmos, pra nos aceitarmos e cuidarmos da gente com muito carinho. Você que tem mais de 25 anos e ouviu essas frases na sua infância, que tinham como referência os gays que faziam papel de Bobo da Corte em programas humorísticos peço que se ficou cicatrizes internas que você cuide delas e se trate com muito carinho pois você é especial. 

Apesar de ter saído do armário pra minha família, amigos e colegas próximos eu ainda luto muito internamente pra me amar como sou. Pra tratar com simplicidade coisas internas que realmente são simples. 

Por que escrevi esse post?


Nem ia falar sobre isso aqui, mas senti a necessidade...


Reencontrei virtualmente um amigo (Anderson) lá de 2002 de quando entramos juntos na PM, trabalhamos mais de 10 anos no mesmo batalhão e tínhamos um grupo de amigos. Nesse grupo de amigos tinha um cara que se chamava Mauro, um cara extremamente bonito, pegava várias meninas... o Mauro foi transferido para o litoral e perdi o contato dele.  

Hoje conversando com o Anderson tocamos no nome de vários amigos e a gente ia falando como eles estavam... na vez do Mauro o Anderson falou que ele "virou" gay, falou que após sair do armário ele bloqueou e se afastou de todo mundo. Anderson disse que não tinha nada contra gay e que inclusive tentou puxar assunto com o Mauro mas o Mauro parecia que tinha vergonha de falar com ele e acabou o bloqueando em todas as redes sociais.

Aproveitei a deixa e falei pro Anderson que no nosso grupo de amigos daquela época não era só o Mauro que era gay e que eu também era. o Anderson falou "vc tá me zoando né?" eu falei que não... Ele aparentou estar surpreso, disse que não tinha nada contra e cada um fazia o que quisesse da  sua vida.

Vocês acreditam que eu me senti mal de ter falado pro Anderson? Mesmo ele não tendo feito nenhum comentário homofóbico. Não me senti com vergonha, mas me senti mal, tipo, como se eu tivesse enganado ele esses anos todos. Ok, "não devo satisfação da minha vida pra ele" e blá blá blá  Mas me senti mal. 

Não me senti com vergonha como ele disse que o Mauro aparentemente se sentiu. Mas me senti mal. Talvez porque no nosso grupo de amigos eu já tenha no passado falado palavras homofóbicas sobre alguma situação e com certeza já ouvi eles falarem também (mas nem me recordo agora). Mas me senti mal e queria dividir isso com vocês.


Muito obrigado por me lerem. Desculpem eu não estar muito presente aqui no blog. 
Se cuidem nessa Pandemia, hoje chegamos a marca de 11 mil mortos. 11 mil vidas. 11 mil histórias interrompidas. Espero que achem logo a vacina pra isso. Enquanto não achem vamos nos cuidando como podemos. Forte abraço (já que virtual pode). Vamos sair dessa.