sábado, 30 de outubro de 2021

Revendo e Refletindo sobre O Segredo de Brokeback Mountain

     Sexta feira em casa sem fazer nada resolvi assistir na Netflix O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN, já fiz um post sobre esse filme aqui em Fevereiro de 2014

    O filme foi lançado em 2005 e mexeu bastante comigo quando assisti a primeira vez. Assisti com meu amigo Marcio lá na Av. Consolação no cine Belas Artes. 
     Em 2005 eu tinha 22 anos, era novo na Polícia Militar, queria abraçar o mundo em todos os sentidos, sonhava em ser pai e ter uma família. E o filme mostrou o que eu queria pra minha vida igual ao personagem Ennis: ter um relacionamento com homem e ao mesmo tempo casar e ter família com esposa e filhos. Na época eu tb tava me recuperando do fim do primeiro cara que me apaixonei (Fábio).
    Lembro que na época o orkut estava em alta e tinha uma comunidade do filme onde a gente conversava, muitos gays enrustidos como eu na época e fazíamos observações que passaram em branco durante o filme. Uma observação interessante era o perfil e o sobrenome dos personagens, um se chamava Jack Twist, que em inglês significa furacão e o sobrenome do outro personagem do filme era Ennis Del Mar. E era assim que eles eram mesmo, Jack era como um furacão agitado e que bagunçava por onde passava, enquanto Ennis tinha a calmaria e a profundidade do mar. 
      Como o tempo passou rápido, é assustador que de 2005 pra cá já se passaram 16 anos. Parece que foi ontem.

       O filme se passa em 1963 e dois jovens são contratados para cuidarem de milhares de ovelhas em uma montanha (montanha chamada Brokeback). Montanha essa isolada e os dois passam a conviver. Jack já é mais solto e desinibido enquanto Ennis é caladão e está noivo de Alma. O combinado foi os dois revesarem e uma noite um ficar de vigia nas ovelhas e o outro dormir na barraca. Certa noite ambos bebem até tarde. Jack vai pra barraca e Ennis que deveria vigiar as ovelhas está muito bêbado e dorme ao lado da fogueira. Na madrugada a fogueira apaga e Jack acorda com Ennis tremendo de frio, Jack chama Ennis pra dormir na barraca e cambaleando Ennis aceita o convite do colega de trabalho. Mais tarde ainda Jack pega a mão de Ennis e puxa pra ele como se fossem dormir de conchinha, Ennis acorda assustado, ambos meio que querem brigar e surge a primeira cena de sexo deles, sexo selvagem, sem romantismo, Ennis colocando Jack de quatro, pegando cuspe pra lubrificar e o comendo. 
       No dia seguinte, clima pesado entre os dois, Ennis extremamente arrependido e perdido. Fala pra Jack que isso não iria mais se repetir pois ele não era bicha, Jack também diz que não é. 
     Um diálogo sútil que ocorre entre os dois na véspera da foda, é que Jack fala que sua mãe é presbiteriana e Ennis diz que seus pais eram da igreja metodista, ai Jack diz que eles acreditam que pessoas como eles iriam pro inferno, ai Ennis diz que Jack iria pois ele não tinha feito nada pra ir. Subtende-se que ambos já sabiam que ambos eram gays. 
       A segunda vez que os dois ficam acho uma das cenas mais bonitas, um pede desculpa pro outro e ficam juntos anoite na barraca. O sexo nem é explícito como a primeira vez o que deixa a cena bem romântica. 

          O período dos dois cuidarem das ovelhas termina. Na hora da despedida Jack pergunta se Ennis vai voltar na próxima temporada para cuidar das ovelhas e Ennis diz que não, que se casará no fim do ano e pretendo algum serviço que não precise dormir fora de casa. Jack vai embora... Ennis chora escondido. 

        Quatro anos se passam, cada um forma uma família. Jack pesquisa na lista telefônica o endereço de Ennis e manda um cartão, Ennis responde o cartão postal e os dois marcam de se encontrar. Outra cena de tirar o fôlego é o reencontro dos dois, a saudade, a ansiedade, o abraço forte, o medo de se beijarem. Nesse momento a submissa esposa de Ennis vê o encontro pela janela de casa e fica em choque. Em 2005 quando assisti nem fiquei com dó de Alma, hoje assistindo foi de cortar o coração. 


          Ennis e Jack vão para o motel e o diálogo dos dois mostra que Jack gostaria de ter alguma coisa com Ennis, mas Ennis deixa claro que o rumo que sua vida levou não daria pra ter algo entre os dois. Ennis inventa uma desculpa para a esposa que vai pescar com Jack e os dois vão acampar na montanha Brokeback, outro diálogo de partir o coração:

Jack: Podia ser assim sempre.
Ennis: E como seria isso?
Jack: E se eu e você tivéssemos um rancho. Vendendo vacas e tal. Seria uma boa vida. 
Ennis: Você tem sua mulher e sua vida no Texas e eu tenho a minha em Riverton. 
Jack: É? Você e sua esposa, isso é vida?
Ennis: Não fale da minha esposa, o negócio é que um ficando perto do outro, e se essa coisa domina a gente, no lugar errado, na hora errada? Estamos mortos. 

Nesse momento Ennis conta uma história que presenciou: tinha dois caras mais velhos morando juntos perto de casa,  eram a piada da cidade, mesmo sendo dois senhores durões, e um dia encontraram um deles numa vala de irrigação. Bateram nele com uma chave de roda, amarraram e arrastaram ele pelo pênis até que fosse arrancado. Meu pai me mostrou isso quando eu tinha nove anos. Dois homens morando juntos de jeito nenhum. Podemos nos ver de vez em quando, em algum lugar no meio do nada, mas...


          Anos depois Ennis se separa, ele manda um cartão postal pra Jack e ao ler a notícia vai correndo ao encontro, todo esperançoso pensando que aquele cartão significava os dois ficarem juntos, Ennis mais uma vez joga um balde de água fria e diz que os dois não podem morar juntos. Jack desolado e triste vai para a zona de prostituição transar com um garoto de programa. 


          O filme mostra todas as fases da vida deles e décadas depois um dos últimos e mais tristes diálogos deles:
Jack: Podíamos ter tido uma vida boa juntos. Um lugar só nosso. Mas você não quis Ennis. Conte as poucas vezes que ficamos juntos em 20 anos, e veja o quanto você me controlou. Você não sabe o quanto eu sofro. Eu não sou você. Não me basta vir transar uma ou duas vezes por ano. Queria saber como deixar você. 
Ennis: E por que não deixa? Por que não me deixa em paz? A culpa é sua por eu ser assim. Eu sou um nada, sem eira nem beira. 


SPOILER   SPOILER SPOILER  - SE NÃO QUISER SABER O FINAL DO FILME PARE DE LER AQUI.


Ennis manda um cartão postal para Jack combinando se encontrarem em determinada data. O cartão postal volta com o carimbo de FALECIDO. Ennis liga pra esposa de Jack que confirma a morte do marido, ele pergunta o que ocorreu e ela fala que foi um acidente envolvendo carro, nesse mesmo instante vemos Jack sendo espancado até a morte por alguns homens pelo fato de descobrirem que ele era gay.

Ennis pergunta se ele foi enterrado lá e a esposa disse que as cinzas foram entregue aos pais de Jack, pois ele queria que ela fosse espalhada em Brokeback Mountain mas ela não sabia onde era esse lugar. 

Ennis vai até a casa dos pais de Jack. Fala que sabe onde é a montanha Brokeback e se quiserem ele pode jogar as cinzas dele lá, até que o pai de Jack fala: "eu sei onde fica Brokeback Mountain. Meu filho falava seu nome, Ennis Del Mar, e dizia que um dia iria trazê-lo aqui, e iriam botar ordem neste rancho. Tinha essa ideia doida que vocês dois viriam morar aqui, construir uma casinha, ajudar a administrar o lugar." 

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          Engraçado como a gente muda, em 2005 eu me identificava 100% com Ennis em ter um lance com homem apenas no sigilo. Hoje eu me vejo muito mais como Jack: sinto mais a necessidade de ter alguém, de construir uma vida junto.  Inclusive no diálogo que eles têm em que Jasck fala "Queria saber como deixar você" é o que sinto referente ao João, meu namorado, amo muito ele, a razão manda eu separar dele mas a emoção e o amor que eu sinto por ele não deixa. Esse filme continua mexendo comigo, mas agora com outro olhar. 

          A trilha sonora é perfeita, o sountrack toca na alma, a fotografia é uma das coisas mais bonitas. Sem contar que os 2 atores são lindos demais. Aliás, todos os atores que fazem os demais personagens mandam muito bem. 

         Sei que esse tipo de postagem a maioria das pessoas não gostam, mas tem postagens que eu faço exclusivamente pra mim, pra minha reflexão. Daqui uns anos se eu assistir  de novo volto aqui pra falar meu novo ponto de vista.