Sou 8 ou 80, amor pra mim é você dar a vida por alguém e ponto final. Se não der a vida por essa pessoa você pode até gostar pra caralho, mas não ama. Simples assim. Radical né? Por isso tenho medo de banalizar esse verbo de 4 letras.
Há 3 anos uma dessas pessoas que era extremamente importante pra mim MORREU. Foi meu único amigo gay. Ele também vivia no armário, morava com a família, era inteligente, curtia seriados. Sabia todas minhas senhas de redes sociais, do blog e de tudo que fosse necessário ele entrar em ação caso ocorresse alguma coisa comigo. Um dia terei coragem de falar aqui, mas ele se arriscou pra limpar minha barra perante a polícia militar. Lealdade é isso. É fácil ser amigo nas horas fáceis e assistir de camarote a pessoa se fudendo. Ele foi meu amigo de horas incertas. Ele me conheceu na pior fase do meu vício e insanidade. Todos os encontros com as candidatas a mãe do meu filho ele estava lá, de longe, observando e torcendo por mim. Nunca alguém fez eu me sentir tão importante como ele fazia, ele me admirava, me achava o fodão, nas festas da família dele, ele sentia orgulho de me apresentar como o amigo policial dele e me colocava lá em cima. Nas festas da empresa de fim de ano era eu e o irmão dele que estava lá e eu sempre trazia o carro porque os dois bebiam pra mais. Hoje que tudo passou me dá raiva porque eu deveria ter demonstrado mais que o amava, deveria ter AGRADECIDO MAIS. Foi um choque saber que ele morreu pois ele não estava doente e do nada morreu. Não tive coragem de perguntar pra família dele o motivo da morte, no velório só falavam que ele teve uma forte pneumonia e morreu rápido. Sempre fiquei com uma pulga atrás da orelha desconfiado que fosse hiv pela causa ter sido "pneumonia".
Hoje reativei meu facebook (que encontra-se Desativado) e entrei em contato com uma amiga dele que chegou a visitá-lo no hospital e chegou a conversar com ele. Ela confirmou minha suspeita. Falou que ele ficou sabendo que tinha hiv após ser internado e que ele só falou pra ela e pro irmão dele pois ficou com vergonha.
Honestamente eu não sei como não peguei aids nesses anos todos, uns dizem que é sorte, eu prefiro acreditar que foi "livramento". Ao saber que o Marcos morreu de hiv veio todo um filme de tudo que já fiz... desde ter transado com ele (usamos preservativo), transado com um escravo chamado Léo que depois me disse que também estava com hiv (com o Léo também usei preservativo)... chupado centenas de pênis desconhecidos sem proteção... transado com centenas de homens e alguns deles sem camisinha... ido em clubes de sexo... ido em cinemões... transado com moradores de rua... e olha que não faz muito tempo que fui na sauna com o João e chupei alguns pênis lá sem proteção, e sim, hiv pode passar por sexo oral. Aids não é sentença de morte como já conversei com algumas pessoas que são positivas, mas se a gente pode evitar tomar coquetel que possui diversos efeitos colaterais, é bom evitar.
Preciso me perdoar por tudo que já fiz com meu corpo, com tudo que já fiz comigo. Preciso me reencontrar, depois que o Marcos morreu, depois que sai da polícia me perdi um pouco de mim. Hoje sou um Danilo que apesar de não estar mergulhado no vício em sexo, não é o Danilo que eu gostaria de ser. Segue o fluxo. Dias melhores virão.