terça-feira, 6 de maio de 2014

O velório

     Não fui trabalhar, não tinha condições pra isso...  Acordei tarde, peguei meu celular e confirmei a mensagem no facebook "o Marcos morreu"...  fiquei deitado na cama por mais um tempo, relembrando nossas conversas, nossos passeios, nossos debates sobre religião, sobre eu querer ser pai...  Bateu uma angustia absurda, me senti sozinho, abandonado, sabendo que se eu aprontasse alguma coisa no que se refere ao mundo gay eu não teria mais meu cumplice pra me socorrer. Nunca precisei mas esse era nosso trato.

     Tomei um banho, uma xícara de café sem açúcar e fui ao velório do meu amigo. Chegando lá tinha muita gente, tava acontecendo três velórios, olhei nome por nome e o do meu amigo era o último, Marcos. Entrei na sala e o vi naquele caixão, não aguentei e chorei, a ficha ali caiu que acabou, que não terei mais meu amigo que sabia 100% da minha vida, que eu não precisava mentir, que eu podia ir na casa dele e era um ambiente familiar e não uma gaiola das loucas, que podia vir aqui em casa que depois que ele fosse embora o pessoal não ia perguntar quem era aquele kra afeminado, acabou as horas e horas de conversa. Sei que esse Blog é uma válvula de escape, mantenho contato com muita gente através de e-mail, mas é diferente... é diferente o calor humano, o abraço, ouvir a voz, dar risadas da vida.

     Falando em dar risadas, no velório eu ri em alguns momentos lembrando que a gente brincava que quem morresse primeiro teria que impedir as travestis de ir lá causar com plumas e paetês (juro que não sei o que é paetê).

     A mãe dele chorava copiosamente em todo o momento, não aceitava de jeito nenhum. Não é a ordem natural da vida uma mãe enterrar um filho. O motivo da morte ficou meio no ar por lá, tudo aconteceu muito rápido, ele pegou uma forte pneumonia que não sarava de jeito nenhum e acabou morrendo. Eu acredito que ele tenha pego hiv, infelizmente acho isso. Pois quando fui no Clube do Sexo e transei sem camisinha lá, eu fiquei meio pirado com a história de aids, falei pra ele que precisava fazer o exame e ele disse que também precisava. Falando em exame dia 10 agora tenho médico anual de rotina onde ele pede todos os exames, e até o fim do mês terei o resultado.


     É isso. A única certeza que temos é a da morte mas nunca estamos preparados para recebe-la. Pra mim a jornada vai ficar menos divertida e até um pouco mais pesada sem o Marcos, menos mal que eu tenho esse espaço para por pra fora o que sinto. Abraço, se cuidem.


2 comentários:

  1. Olá Danilo, percebi que você ficou muito triste com a perda do seu amigo. Embora eu nunca tenha sentido tanta dor, pois nunca perdi uma pessoa tão próxima, tão amiga, mas imagino o que deve estar sentindo, porém você tem que buscar forças em Deus para suportar essa perda. As vezes, não entendemos algo, pois nós não controlamos nossos destinos... Pense que ele viveu e aproveitou a vida, esse tempo que ele passou entre seus amigos não foi em vão. Ele veio e ensinou e compartilhou coisas, que, talvez, você não tivesse aprendido se não fosse por ele , então ele cumpriu a sua missão... Bjs

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