Adeus Polícia Militar do Estado de São Paulo

     O ano era 2001, eu com 18 anos, cheio de sonhos e vontade de mudar o mundo e minha vida. Estava no ápice do meu vício por sexo. Queria ser bombeiro, reprovei na prova física... me preparei e acabei entrando para as fileiras da Polícia Militar do Estado de SP. Fiquei um ano na Academia Militar, convivendo (dormindo, tomando banho, almoçando e se tornando um policial dia a dia) com outros recrutas. Foram dias difíceis, mas um dos melhores das minha vida, como diz a canção daquela casa "vivo dias consagrados, que jamais ousarei esquecer" .

     Saindo de lá fui aprendendo dia a dia na prática a ser um policial, há 3 polícias: A que a gente conhece fora dela (sendo um civil), a que a gente conhece estando na Academia Militar (treinamos em um mundo de faz de conta, o que viveríamos fora dali) e a verdadeira - a polícia de verdade, que só quem está nela, vivendo o dia a dia sabe como é.

     

     Os 10 primeiros anos foram fodas, me sentia o fodão, recebi dezenas de elogios e algumas condecorações. Troquei tiros, evitei assaltos, fiz parto, salvei bebês engasgados, me sentia o herói. Em 2006 o PCC mostrou a cara matando centenas de policiais, dezenas só no fim de semana do dia das mães daquele ano. Fiquei com o cu na mão, mas permaneci firme e forte, mais atento do que nunca. Nesses 15 anos de polícia perdi a conta de amigos que tiveram a vida ceifada por marginais. 

     Em 2011, 2012 quando fiz 10 anos de polícia comecei a perder o tesão, começou a ficar sem graça ser policia. Comecei a pegar raiva da população mal agradecida que só sabe cobrar e falar mal da polícia, generalizar uma tropa de 100 mil homens por causa de erros de uma minoria. Além das mazelas do público externo também comecei a me irritar com o público interno, cansei do militarismo, cansei de superiores hierárquicos com vidas pessoais frustradas que descontam as frustrações nos subordinados, cansei de ter que falar "sim senhor, não senhor" mesmo estando com a razão. A farda começou a ficar pesada.

     Me organizei por 4 anos para esse dia, juntei dinheiro pra possível urgência, fiz faculdade de ed. física e mês passado, no meio de uma das maiores crises financeiras que o Brasil está passando, criei coragem (ou loucura) para dar um chute no serviço público. Tive e estou tendo o apoio da minha família, de diversos amigos e do João, mas confesso que estou com o cu na mão, principalmente na parte financeira. 

     O que me da essa coragem de fazer isso é porque eu estava infeliz na polícia, não é justo pra instituição e nem pra mim.  Também eu não pagar aluguel, ser solteiro, não ter filhos. Na pior das hipóteses faltará dinheiro pra eu comprar coisas supérfluas. 

     Deus me ajude, torçam por mim. Entrei na polícia como um garoto e saio como um homem.