Depoimento de um Viciado em Sexo

     No seriado Dexter ele luta contra ele mesmo pra deixar de ser um psicopata. Inclusive ele chama o lado psicótico dele de Passageiro Sombrio. Meu Passageiro Sombrio se chama Danilo Souza. (meu nome verdadeiro é Daniel).


     Sempre tive uma religião e sempre encarei a masturbação e o sexo como algo sujo, mesmo antes de ter feito a primeira vez. Não lembro quantos anos tinha quando bati punheta pela primeira vez mas foi com um vídeo porno do meu pai. E com homem transei pela primeira vez aos 17 anos, depois não parei mais.



     E quando falo não parei mais, eram transas atrás de transas. Vi que era tão fácil ter um sexo rápido, bastava entrar no chat do uol com o nick PINHEIROS/JÁ (Pinheiros é o bairro que moro) que aparecia alguém. Engraçado que nunca liguei pra aparência, idade das pessoas que eu saia... Desde o começo eu só queria penetrar e gozar.


     Um ano após sair com o primeiro homem entrei para a Polícia... no decorrer da carreira foram surgindo os estresses... algumas pessoas relaxam com bebidas, drogas, esportes... eu relaxava com sexo. Atendia uma ocorrência mais crítica no final do expediente já entrava no chat do UOL e saia com alguém. A coisa começou a fugir do controle quando eu passei a sair todos os dias da semana, estressado ou não, com vontade ou não. Deixava de fazer alguma coisa pra transar. Não podia ir em um shopping ou mercado que precisava ir no banheiro caçar.


     De forma natural foram aparecendo pessoas querendo fazer algo mais diferente do que só chupar e comer... foram aparecendo a galera que curtia umas agressões físicas e verbais, outras que curtiam mijada na cara, fisting, pagar por sexo, me pagarem pra fazer sexo, outras que sentiam prazer em se vestir de mulher, outras em fazer faxina na casa apenas em troca de mamada e eu aceitei todas. Nunca recusei absolutamente ninguém e nenhuma situação. Mesmo sem vontade, com nojo e com receio eu topava sair com tudo e com todos. Só não deixava gozar na minha boca, o resto tava liberado.

     Não importa o tipo de vício, se fosse algo que não desse prazer não existiria gente na cracolândia... E sexo é gostoso, a adrenalina é gostosa, a sensação de caça é muito boa, a sensação de ir além dos limites normais eu curto.

     Passo meses tranquilo referente a isso, mas quando a vontade vem, vem com muita força e vontade de fazer as coisas mais bizarras que eu sei que são bizarras, mas eu sinto vontade... E não paro de pensar nisso... E bate um aperto, um vazio dentro de mim, uma coisa inexplicável... que só sana quando eu faço... Porém em seguida também vem a ressaca moral e a bateria espiritual/mental cai pra 0. E isso tudo ocorre há muito tempo, muito antes de eu estar namorando. A ressaca sempre apareceu.


     Faz alguns dias que ando agitado, inquieto, adrenalina lá em cima... Vontade absurda de sexo violento, junto com sexo sujo, junto com humilhações. Fui na igreja essa semana tentar encontrar serenidade... fui na reunião do DASA (Dependentes de Amor e Sexo Anônimos) lá na igreja da Santa Cecília... Quando estou vulnerável assim evito andar sozinho em ambientes propícios para ocorrer (não entro em banheiros públicos, não vou ao centro de SP sozinho, evito sair de casa sem um destino específico)... E essa semana fui visitar um casal de amigos e conhecer o bebê deles que nasceu, na volta pra casa passei em um mercado que fica no centro de SP, na saída do ônibus um morador de rua jovem ficou me encarando e eu o encarei. Tive que passar ao lado dele porque ele estava no caminho e ele continuo me encarando e pediu dinheiro pra comprar não lembro o que. Ele era novo, estava cheirando mal, aparentava estar drogado. Fiquei louco. Quis usá-lo de todas as maneiras possíveis. Falei que tava sem grana e fui ao mercado. Comprei o que tinha que comprar mas aquele morador de rua não saia da minha cabeça, imaginei eu dando dinheiro pra ele comprar drogas, comer ele enquanto ele cheirava uma pedra de crack... minha cabeça ficou a milhão... comi um chocolate dentro do mercado pra ver se a adrenalina baixava... pensei no João, fiz a oração da Serenidade, pensei nos meus sobrinhos, pensei em tanta coisa... mas ao mesmo tempo pensava em vê-lo sem roupa... pensava que seria a última vez que faria aquilo... pensava que seria algo rápido... pensava que fazia tempo que eu estava "limpo" e merecia sair com aquele mendigo... Eu poderia ter saído pela porta de trás do mercado, mas sai pela da frente... Enquanto estava na fila estava torcendo pra ele não estar mais lá. Juro que eu não queria que ele estivesse mais lá, tivesse ido embora. Mas ao mesmo tempo queria que ele estivesse. E ele estava.


     Esqueci de mim, esqueci pudor, esqueci vergonha... Eu olhava pros lados como se alguém tivesse me vendo... fui direto e reto... falei que tava afim de trepar e se ele não conhecia um lugar por ali. Ele falou de um puteiro... eu falei que queria com homem e que estava afim de pagar por isso e em seguida olhei pro pau dele e dei um sorriso o cantando... Ele entendeu o recado e falou quanto eu pagaria... Falei que só tinha 15 reais ali... Ele falou que tinha um motel ali perto e fomos.


     O motel realmente era perto, mas pareceu longe. O kra da recepção pediu os documentos, entreguei apenas o meu. Fomos pro quarto. Minha adrenalina estava a milhão. Coração disparado. Ele foi pro chuveiro. Fechei os olhos e falei que porra eu tava fazendo ali, que porra eu tava fazendo da minha vida, que porra eu tava fazendo com a vida do João. Abri os olhos e senti o cheiro horrível da roupa dele. Ele estava tomando banho, fui até a porta do banheiro e perguntei se eu podia tirar umas fotos dele, ele falou que sim, tirei várias. Falei que não queria transar com ele (mas na verdade eu queria) apenas tirar algumas fotos. Terminando o banho falei pra ele deitar na cama, ele tava tão meio zumbi que me obedecia sem questionar. Liguei a TV em um filme porno e falei pra ele se masturbar e ele fez até gozar e eu filmei. Ele se vestiu, dei a grana e cada um seguiu seu rumo.


     Sai desnorteado do quarto. Dessa vez pior do que todas as vezes que já fiz (sim, já fiz isso algumas dezenas de vezes, na maioria delas elas usando drogas enquanto ocorria o ato, porém nas anteriores comi-os ou me chuparam). Fui pra o curso preparatório que faço no centro e subi as escadas, no meu andar fiquei sentado, me sentindo um lixo humano, muito mais lixo do que o kra que eu acabara de usar pra um vício imundo que eu tenho há anos.


     Meus pensamentos viraram turbilhão de pensamentos. Dessa vez além de me machucar eu poderia machucar um kra que amo e que em hipótese alguma merece passar por isso. Contar ou não contar a ele. Por que contar? Por que não contar? E se eu omitir ele nunca saberia e não ficaria triste. E se eu contar e ele acabar nosso namoro. Bingo!!! Isso que eu queria. Ele precisava terminar comigo, pro bem dele. Foda-se que eu o amo, quero vê-lo feliz com alguém que o valorize, não com um idiota viciado como eu, pois se cai hoje poderei cair no futuro.



     Voltei pra casa de ônibus e contei pelo whats app pra ele. Nunca chorei devido o vício, nunca chorei por homem. Nesse dia eu chorei pela situação, pelo filho da puta que fui com o kra que nunca me decepcionou em nada. Pedi perdão. Falei pra ele ser feliz. Achar alguém que o faça feliz. Ele não me merece, simples assim.



Próximo Post falo o resultado disso...



eu assumo e reconheço pra mim que sou um viciado em sexo. Não sinto e nunca senti orgulho disso. Pois sinto abstinência de um sexo sujo, pesado, envolvendo  ambientes pesados... Faz alguns anos (antes de conhecer o João) que eu decidi largar essa vida pra trás e ser feliz de maneira limpa, decente e de auto valorização. 99% tem sido de vitória, mas o 1% vem para devastar. Estou há 2 anos e 5 meses com ele, já tive muita vontade de me jogar na promiscuidade pesada e não porque ele deixa a desejar ... nossas transas são perfeitas, de vez em quando a gente curte uma pegada mais pesada em sauna... ou seja, não tenho motivo nenhum para traí-lo e não quero traí-lo pelo simples fato de o amar. Mas essa semana cai, sei que poderia ter sido pior, eu ter tido "relação" com o mendigo, mas só em ter entrado em um motel e tê-lo visto nu já vem o peso da sacanagem que fiz. Estou com vergonha e raiva de mim. Sei que dias melhores virão. Precisam vir. E vão vir.