sexta-feira, 10 de junho de 2016

Quando Comecei a Deixar de Acreditar na Religião...

     Acho forte eu me intitular Ateu. Acho forte eu dizer que não acredito em Deus. Eu ainda acredito Nele. Eu ainda quero voltar a ter a fé que eu tive no passado, uma fé pura e ingênua. Quero que se foda o mundo, que se foda as informações, que se foda as mil provas que a razão é mais forte que a fé.


     Alguns fatos fizeram e fazem eu acreditar cada vez menos na religião, são esses fatos:

     - Nasci num lar evangélico, minha infância, adolescência e grande parte da fase adulto foi dentro da igreja. Talvez minha família, meus pastores e líderes fizeram eu ter uma distorção errada de Deus. Que tudo que eu pedisse a Ele, Ele realizaria. E eu nunca pedi coisas gananciosas como ser rico, sempre pedi coisas que a bíblia diziam que era certa e eram os desejos do meu coração. Nem 90% dessas coisas aconteceram. Sem querer colocar a culpa nas pessoas, mas talvez o erro deles foi ter feito meio que uma imagem de "gênio da lâmpada mágica" com Deus. O tempo foi passando, as "promessas" não se cumpriram e ficou um ar de frustração.

     - Controversas da bíblia. Pra mim esse era o guia da minha vida, todas as respostas estavam ali. E a bíblia era perfeita, sem erros, escritas por homens inspirados por Deus. Fui crescendo e vendo que não é bem assim. Percebi que muitas igrejas e religiões pegam pra si o que é interessante e o que não é, omitem ou fingem não ver. Lá há várias passagens dizendo que as mulheres não podem pregar, que são impuras, que devem matar determinado tipo de pessoas que cometem X pecado... ai a galera fala que se trata do Velho Testamento, porra, se é do Velho testamento porque ele ainda tá lá? Até os livros de Mateus, Marcos, Lucas e João que sempre foram os livros da minha vida por relatarem a biografia de Jesus Cristo, foram escrito algumas dezenas de anos depois da passagem dele em Jerusalém. E estudando um pouco de história percebe-se que sempre o lixo da raça humana usou a religião para manipular e controlar as pessoas.

     - Os próprios religiosos fazem eu ter nojo da religião. Muitos arrogantes, prepotentes, que se acham melhores do que os outros. Outros cometem meio mundo de "pecado" e bancam o falso moralista em cima dos púlpitos, julgando e apontando os erros dos outros. Outros lixos usam o nome de Deus e a ingenuidade (e burrice) das pessoas para enriquecerem absurdamente, é o caso de Edir Macedo que fez da igreja Universal um fábrica de ganhar dinheiro: mais de 30 políticos eleitos, redes de TV, jornais, portais da internet.  Silas Malafaia, a própria igreja católica que matou meio mundo de gente no passado para construir seu império.

     - Um Deus "cruel". Tantas crianças morrendo no mundo, sendo estupradas, maltratadas, doentes, sofrendo sem ter culpa alguma. Por exemplo o filho da cantora de músicas religiosas Eyshila que está em estado gravíssimo. Cortou meu coração ver a foto abaixo, o moleque tem só 17 anos, isso sem contar milhares e milhares de pais que são separados dos seus filhos.

     - Cada dia que se passa me aproxima mais a ideia que somos um monte de átomos que sobrevive e ponto final. Sem misticismo, sem ideologias, sem aquele carnaval que as religiões fazem. Deixo um texto abaixo, é um pouco longo, mas vale a pena dar uma lida, foi escrito pelo astrobiólogo Carl Sagan, achei interessante. Não quero virar um ateu insuportável que quer provar a tudo e a todos que Deus não existe, que fica xingando religiões e pessoas que acredita, se achando superior por isso. Nada disso. Essa minha atual falta de fé é algo muito pessoal, escrevo aqui pois só tenho aqui pra falar sobre isso. Pelo contrário, gosto que as pessoas tenham uma religião, eu posso estar sem fé em algo, mas curto que as pessoas tenham, é bom ter esperança, ter algo que a faça refletir sobre o que é certo e errado, e a religião fornece isso, se a pessoa põe em prática é outra história. Sem mais delongas, segue o belo e intrigante texto do Carl, vale a pena ler:


Olhem de novo esse ponto. É aqui, é a nossa casa, somos nós. Nele, todos a quem ama, todos a quem conhece, qualquer um sobre quem você ouviu falar, cada ser humano que já existiu, viveram as suas vidas. O conjunto da nossa alegria e nosso sofrimento, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas confiantes, cada caçador e coletor, cada herói e covarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e camponês, cada jovem casal de namorados, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada professor de ética, cada político corrupto, cada "superestrela", cada "líder supremo", cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu ali - em um grão de pó suspenso num raio de sol.
A Terra é um cenário muito pequeno numa vasta arena cósmica. Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, na sua glória e triunfo, pudessem ser senhores momentâneos de uma fração de um ponto. Pense nas crueldades sem fim infligidas pelos moradores de um canto deste pixel aos praticamente indistinguíveis moradores de algum outro canto, quão frequentes seus desentendimentos, quão ávidos de matar uns aos outros, quão veementes os seus ódios.

As nossas posturas, a nossa suposta autoimportância, a ilusão de termos qualquer posição de privilégio no Universo, são desafiadas por este pontinho de luz pálida. O nosso planeta é um grão solitário na imensa escuridão cósmica que nos cerca. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que vá chegar ajuda de outro lugar para nos salvar de nós próprios.
A Terra é o único mundo conhecido, até hoje, que abriga vida. Não há outro lugar, pelo menos no futuro próximo, para onde a nossa espécie possa emigrar. Visitar, sim. Assentar-se, ainda não. Gostemos ou não, a Terra é onde temos de ficar por enquanto.

Já foi dito que astronomia é uma experiência de humildade e criadora de caráter. Não há, talvez, melhor demonstração da tola presunção humana do que esta imagem distante do nosso minúsculo mundo. Para mim, destaca a nossa responsabilidade de sermos mais amáveis uns com os outros, e para preservarmos e protegermos o "pálido ponto azul", o único lar que conhecemos até hoje.

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5 comentários:

  1. Cara, até parece que quem escreveu este post fui eu. Também ando meio incrédulo, agnóstico, sei lá. O fato é que não vejo mais a religião com os mesmos olhos que via antes. Acho que o foco principal tem se perdido com o tempo. Queria que tudo fosse diferente. Que o mundo fosse melhor, menos complicado. Sobre a ideia de Deus, é melhor que nos mesmos a construamos, mas tem livro que li que achei interessante: A Cabana. O livro traz uma concepção de Deus diferente da que nos apresentaram.

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  2. Tudo é tão rápido e fugaz, somos tão insignificantes diante da grandeza do universo, porém vivemos a nos digladiar a nos machucar em busca do poder e da superioridade.
    Não tenho esperança de um mundo melhor com menos egoismo, o ser é um animal apático. Onde estará escondida a empatia?

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  3. Me arrepiei ouvindo esse louvor.

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  4. Eu me "desviei" a poucos meses e me sinto assim também, fui criado na igreja e toda minha familia tbm é evangélica, atualmente eu me questiono da existência de deus não por permitir a dor, essa resposta eu já tenho, quanto a veracidade da bíblia ela foi manipulada por anos por uma pequena quabtidade de pessoas e pouco depois traduzida as línguas muitas coisas podem ter sido mudadas.
    Eu tbm sinto falta da fé, é como se vc precisasse buscar as respostas para perguntas que outrora pareciam simples.

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