domingo, 1 de fevereiro de 2015

Crítica: Orações Para Bobby

     Me indicaram esse filme e assisti hoje. Quando assisti me questionei como não tinha o assistido ainda. Achei o filme bacana e muito reflexivo. Interpretação dos atores (principalmente da mãe do garoto) e texto um show a parte.

(a partir de agora o texto conterá Spoilers, por isso quem não quiser saber o que acontece no filme pare de ler por aqui).


     Se vc é curioso como eu e continuou lendo esse post ou se já viu o filme, a história se trata de de uma família cristã, perfeita, tipo comercial de margarina. Até ai tudo lindo e maravilhoso se um dos filhos do casal não vivesse tormentos e dramas pessoais pelo fato de ser homossexual. Ele acaba contando ao seu irmão que acaba contando aos pais e é ai que começa a Via Crúcis do garoto Bobby.      E a principal responsável pelo seu tormento vem de quem não deveria vir, da mãe do garoto. Uma mulher que era carinhosa com o filho até o dia que soube que ele era gay, a partir dai se tornou uma mãe super protetora e sem sabedoria espiritual (fanática). Como o filme se passa nos anos 80 (se não me engano) não havia tantas informações como há hoje 35 anos depois. Se hoje ainda há preconceito imagina isso há três décadas.
     O filme é bacana por ser dinâmico, as coisas acontecem rápido e sem enrolação. Bobby conta ao irmão que é gay, os pais descobrem, a mãe tenta de todas as maneiras "curar" o filho o levando em psiquiatras e colocando versículos bíblicos em todo canto da casa pra ele se aproximar de Deus, Bobby se assume gay pra ele mesmo e pras pessoas, a mãe o expulsa, ele vai morar com a prima em outra cidade, arruma um namorado (bonitão) e é aceito pela família do namorado, mostra rapidamente a vida promiscua de muitos gays, Bobby não consegue lidar com o vazio dentro dele, vê o namorado de mãos dadas com outro, tem um flash back de tudo que viveu e sofreu pelo fato de ser gay (na minha opinião a parte mais triste do filme, meus olhos enxeram de lágrima), vai até uma ponte e se joga. O modo que cada membro da família sabe da notícia também é um aperto no coração (e um show de interpretação a parte para a atriz que faz a mãe do garoto).


     A partir dai começa a segunda parte do filme. Começa outra Via Crúcis, mas dessa vez da mãe de Bobby. Ela se sente culpada, perdida e responsável pelo que ocorreu com o filho. Ela descobre só depois da morte do garoto que ele não escolheu ser gay. Em uma viagem exterior e interior ela procura entender por que as coisas tomaram esse rumo. 

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     Vez ou outra recebo e-mails de mães preocupadas com a sexualidade de seus filhos (veja um deles aqui), e por mais que exista muitas mães com mentes abertas que os recebam de braços abertos, para outras não é tão fácil, elas se sentem tão perdidas quanto os filhos. Muitas são de uma época em que ser gay era como se fosse um criminoso, os anos 80 trouxe a maldita aids que erroneamente na época ficou com fama de ser a doença/maldição dos gays. O conselho que dou para uma mãe (ou pai) que me procura é: ame seu filho independente da sexualidade dele, pois se vc o conheceu a vida inteira sem saber oficialmente que ele era gay, ele continuará sendo o mesmo filho de sempre. AME SEU FILHO, O RECEBA DE BRAÇOS ABERTO, AME E O TRATE COM MAIS CARINHO DO QUE NUNCA, PROVAVELMENTE ESSE SERÁ O MOMENTO DA VIDA DELE QUE ELE MAIS PRECISARÁ DE VOCÊ. Ser gay não necessariamente é ser promiscuo, não é sair por ai bebendo e fazendo você passar vergonha ele imitando mulher. Pode ter certeza que sua criação influenciará a pessoa especial, educada e bom filho que ele é. Já sentir atração pelo mesmo sexo foge da sua criação, foge de motivos externos, é algo que não sei te falar o motivo, mas posso te garantir que não somos assim por opção nossa ou porque queremos. (até o fim do ano farei um post exclusivamente sobre mães de gays).

     Também já tive o desprazer de atender algumas ocorrências de suicidas gays, uma curiosidade é que antes de ver a carta da vítima eu já me ligava que ela era homossexual, nunca comentava com meu parceiro que sabia, mas dentro de mim já tinha certeza que o corpo pendurado na corda ou caído no chão em decorrência de excesso de remédios se tratava de um gay.
     No começo, quando eu era recruta, as cartas me chocavam, tirando meu sono inclusive, pois eu me via nelas, parecia que eu as tinha escrito. Mais de uma vez chorei com algumas mães em dar a notícia. Já quis morrer mas nunca tive coragem de colocar em prática (ainda bem), mas confesso que já deixei de tomar certos cuidados com a minha vida com a intenção de ir embora, mas não tenho coragem de falar sobre isso aqui no Blog, um dia talvez eu tenha. (até o fim do ano vou tentar não esquecer de fazer um post falando sobre suicidas gays, pois existe mais do que é divulgado por ai. Tenho algumas fotos dessas cartas mas acho que não é ético da minha parte colocá-las no Blog mesmo escondendo o nome dos envolvidos, enfim, até o fim do ano farei algo a respeito).


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Esse era pra ser um Post sobre o filme, acabei usando como um desabafo. Mas tá valendo. Pra finalizá-lo quero deixar claro que apesar de Viver no Armário (não ser assumido) eu me aceito como sou, sentindo atração física por pessoas do mesmo sexo. Não acredito em cura gay. Não acredito em deixar de sentir essa atração. Optei desde 2012 a começar a deixar de ser promíscuo, cansei da vida vazia, fútil e descartável que eu tinha. Ah, também optei em não assumir para as pessoas que sou assim pois não é da conta de ninguém se prefiro um pênis a uma vagina, é algo muito íntimo e pessoal.


Forte abraço, uma semana abençoada pra nós!!!


Danilo Souza