Minhas Amarras Gays

     Faz um ano e pouco que sai do armário em casa e aos poucos as pessoas que convivem comigo em outras áreas da minha vida também estão sabendo.


     Gosto muito de fotografias e tenho várias aqui em casa, desde quadros gigantes com fotos da minha família como quadros menores com fotos de passagens e pessoas importantes da minha vida. Esse mês coloquei na estante de casa uma foto linda minha com João na praia. Meu irmão veio em casa e não comentou nada. Minhas mãe também veio e também não comentou nada - não comentou comigo.

     Meu irmão mandou uma mensagem essa semana dizendo que minha mãe ficou muito triste com a foto e que ela vai conversar comigo, que ela nasceu em outra época e pra ela isso não é normal, que ela tem orado dia e noite por mim. Respirei fundo e agradeci ele ter me avisado.

     No dia seguinte fui até a casa da minha mãe pegá-la para irmos até a Vila Mariana numa loja de móveis planejados para minha cozinha. A ida até a loja durou 40 e poucos minutos e conversamos sobre tudo e ela não tocou o assunto, e também não tocou no assunto na volta.

     Não deve ter sido fácil pra ela, de outra geração, evangélica, tradicional, ter colocados expectativas héteros em mim, e aos 35 anos eu ter dito que sinto atração por homens. Mas não posso mais me esconder, não posso mais viver no ocultismo, não posso mais namorar mulher pra satisfazer ela ou quem quer que seja.

     Minha família é muito grande e tem alguns casos de pessoas que deixaram de ser feliz para agradar ou ficar bem na fita com a minha família. Não quero fazer parte dessa turma.

     Minha mãe não conhece o João ainda como meu namorado, ela o conhecia como amigo nas vezes que ela ia na casa dela comigo ou quando viajamos juntos para o Nordeste. Mas tava tão na cara que eu era apaixonado por ele, não sei como ela e todo mundo não percebeu.

     Tirando minha mãe e meu irmão, outro aspecto que faz eu não me expor tanto é o João. Ele vive no armário e por isso jamais iria expô-lo a nada. Mas gostaria muito de poder andar com ele de mãos dadas igual qualquer casal normal que curte a presença do outro, ou levá-lo em algum evento social (festa de família, empresa, amigos) e apresentá-lo como meu namorado, levá-lo até a casa da minha mãe e passar o dia lá. Enfim, que as coisas fosse normais. E não são. A sociedade hipócrita ainda não aceita. Eu comecei a cagar pra sociedade.